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diferenciaram da vida diária do cristão mediano da Idade Média. A diferença pode ser
formulada como segue: o católico leigo , normal da Idade Média, vivia eticamente, por
assim dizer, da mão para a boca . Satisfazia conscientemente, em primeiro lugar, seus
deveres tradicionais. Mas além deste mínimo, suas boas ações não formavam um sistema
de vida conexo, ou pelo menos racionalizado, permanecendo como uma sucessão de ações
isoladas. Ele podia usá-las conforme a necessidade da ocasião, para espiar pecados
particulares, para melhorar suas chances de salvação ou, mais para o fim de sua vida, como
um tipo de prêmio de seguro.
Naturalmente, a ética católica era uma ética de intenções. Mas a intentio concreta de cada
ato isolado determinava seu valor. E a ação isolada, boa ou má, era creditada a quem a
fizesse, determinando seu destino temporal e eterno. Muito realisticamente, a Igreja
reconheceu que o homem não era uma unidade definida com absoluta clareza, a ponto de
dever ser julgado de um modo ou de outro, mas que sua vida moral estava normalmente
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Max Weber
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sujeita a motivos conflitantes e suas ações contraditórias. Naturalmente, ela requeria, como
um ideal, uma mudança fundamental de vida. Mas ela atenuou justamente esta exigência
(para a média) por um de seus mais importantes meios de poder e de educação, ou seja, o
sacramento da absolvição, cuja função estava ligada às mais profundas raízes da religião
peculiarmente católica. A racionalização do mundo e a eliminação da magia como um meio
de salvação não foi levada tão longe pelos católicos como o foi pelos puritanos (e antes
deles pelos judeus). Para o católico, a absolvição da sua Igreja era a compensação para as
suas próprias imperfeições. O sacerdote era um mágico que fazia o milagre da
transubstanciação e que tinha em suas mãos as chaves da vida eterna. Ás pessoas podiam a
ele recorrer na aflição e penitência. Ele distribuía redenção, esperança de graça, certeza dê
perdão, garantindo assim o relaxamento daquela tremenda tensão à qual o calvinista estava
condenado por um destino inexorável que não admitia mitigação. Para ele não existiam tais
confortos humanos e amigáveis. Ele não poderia esperar o perdão pela horas de fraqueza ou
de descuido aumentando a boa vontade em outras horas, como o poderiam o católico e
mesmo o luterano. O Deus do calvinismo exigia de seus crentes não boas ações isoladas,
mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado. Não havia lugar para o
ciclo, muito humano, dos católicos de pecado, arrependimento, reparação e liberação,
seguido de um novo pecado. Nem havia balança alguma de mérito para uma vida como um
todo que pudesse ser ajustada por punições temporais ou pelos meios da graça das Igrejas.
A conduta moral do homem médio foi pois privada de seu caráter não planejado e
assistemático, e submetida, como um todo, a um método consistente de conduta. Não foi
por acaso que o nome de metodista foi colocado aos participantes do último grande
reflorescimento das idéias puritanas no século XVIII, justamente como o termo rigorista ,
que tinha o mesmo significado, fora aplicado a seus antecessores espirituais do século
XVII.
Desse modo, só por uma mudança fundamental no completo significado da vida, em cada
momento e em cada ação, poderiam ser provados os efeitos da graça, transformando o
homem do status naturae para o status gratiae.
A vida do santo era direcionada exclusivamente para o fim transcendental, a salvação. Mas
justamente por este motivo, ela era completamente racionalizada neste mundo, e totalmente
dominada pelo objetivo de aumentar a glória de Deus sobre a terra. Nunca preceito omnia
in majorem Dei gloriam fora levado tão amargamente a sério. Só uma vida constantemente
guiada pela reflexão poderia conseguir sobrepujar o estado de natureza. O cogito ergo sum
de Descartes foi reassumido pelos puritanos contemporâneos com esta reinterpretação ética.
Foi esta racionalização que deu à fé reformada sua tendência peculiar ao ascetismo, e é a
base tanto do relacionamento como do conflito com o Catolicis mo; naturalmente, coisas
similares não eram desconhecidas por este último.
Sem dúvida, o ascetismo cristão, tanto em seu significado interno como exteriormente,
contém coisas muito diferentes. Mas ele teve um caráter definitivamente racional em sua
formas mais elevadas no Ocidente, já desde a Idade Média e, em diversas formas, mesmo
na antiguidade. O grande significado histórico do monasticismo ocidental, em contraste
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A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
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com o do Oriente, está baseado neste fato, se não em todos os casos, ao menos em termos
gerais. Nas regras de S.Benedito, com os monges de Cluny, com os cistercenses e mais
fortemente com os Jesuítas, ele se emancipou da fuga inconseqüente do mundo e da auto
flagelação irracional. Desenvolveu um método sistemático de conduta racional com o
propósito de sobrepujar o status naturae, de livrar o homem do poder dos impulsos
irracionais e de sua dependência do mundo e da natureza. Tentou sujeitar o homem à
supremacia de uma vontade determinada, colocar seu agir sob constante autocontrole com
cuidadosa consideração de suas conseqüências éticas. Assim, treinava objetivamente, como
trabalhadores a serviço do reino de Deus, e com isso assegurava, subjetivamente, a salvação
de sua alma. Este autocontrole ativo, que constituía a finalidade dos exercitia de Santo
Inácio e das virtudes monásticas racionais de toda parte, foi também o ideal prático mais
importante do puritanismo. No profundo desdém, que contrasta com a fria reserva de seus
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